Há alguns anos atrás vi uma peça que me fascinou. “Arte” é uma fabulosa peça da dramaturga (pode-se chamar dramaturga a quem escreve comédias?) francesa Yasmina Reza.
Três ou quatro amigos e uma tela. Uma tela em branco. Comprada por muito, muito, mesmo, muito dinheiro. O proprietário dessa dispendiosa tela encontra naquele branco de tela significados e metafísicas que lhe foram descritos pelos marchands e críticos de arte. É arte! Está em branco, mas vale milhões!
Orgulhoso da aquisição e investimento e prova do seu apurado gosto artístico apresenta o quadro aos amigos um dos quais (politicamente incorrecto) apesar das profusas explicações e interpretações pré-ditadas pelo amigo conclui: “Isso é uma merda em branco” ou algo parecido que a memória já não é o que era e já lá vão uns 10 anos. “Pagaste quanto por essa porra?”.
Claro que a peça é mais do que a mera questão estética ou a discussão da subjectividade artística dos nossos tempos ou o monte de probabilidades que uma tela em branco apresenta: cada um vê num quadro pintado de branco aquilo que quer, o que podia ter sido mas não foi... até o politicamente incorrecto nada. A discussão entre os amigos é interessante, intensa; ora convoca o riso ora chama a emoção. A tela em branco é apenas o ponto de partida para a reflexão (penso eu de que…) sobre algumas incongruências da vida. Ah, lembrei: são três, sim são três amigos. Um a favor, um contra e um sempre em cima do muro.
Claro que quem é fã decerto se lembra da história em que o Pateta trabalhava numa galeria e no momento em que pendura os quadros para uma exposição chega uma excursão de apreciadores de arte. Pateta não se atrapalha e qual crítico de arte avança uma demorada explicação de cada um dos quadros. Sentimentos, cores, impressões… de tudo isso fala o nosso amigo Pateta, crítico de arte, aplaudido e elogiado pelos visitantes que saem visivelmente satisfeitos com o que viram perante o espanto do dono da galeria. Espanto porque ó pormenor dos pormenores: os quadros estavam embrulhados!
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