14 de fevereiro de 2008

(Ir)responsabilidade e Cytotec

A notícia que li no jornal a Semana deixou-me preocupada. Pelas circunstâncias descritas na notícia e também pela referência nada discreta e julgo eu completamente despropositada ao nome da moça. Vou directamente à fonte, o jornal Público (mostra maior sensibilidade e não refere o nome) e confirmo a história.
Aborto provocado com Cytotec, um medicamento para úlceras gástricas e duodenais, que acabou por concretizar-se numa casa de banho da residência duma Escola Profissional em Viseu.
Acredito que toda e qualquer mulher tem o direito a ser mãe em plena consciência e por sua vontade própria. Acredito ser uma violência impor uma gravidez não desejada a qualquer mulher. Mas, caramba!! Às vinte semanas? Naturalmente a Polícia Judiciária já a ouviu e a moça incorre numa pena que pode ir até três anos de prisão.
Hum, este caso é efectivamente preocupante e os comentários à notícia espelham isso mesmo.
Não pode tratar-se de falta de informação quando está em causa uma jovem de 19 anos que frequenta um curso universitário e que engravida pela segunda vez no espaço de um ano. Curiosamente a lei portuguesa da interrupção voluntária de gravidez faz agora um ano.
É preocupante porque são inúmeros os casos de jovens que vão estudar, beneficiando de bolsas de estudo que custam aos contribuintes cabo-verdianos e aos contribuintes dos países de acolhimento e voltam pais e mães mas muitas vezes sem o curso ou com atrasos significativos na sua conclusão. No final de 2005, uma jovem, também cabo-verdiana, também estudante, também em adiantado estado de gravidez (19 semanas) foi a tribunal num caso semelhante a este.
A repetição destas situações pode mesmo fazer diminuir o número de bolsas principalmente de bolsas concedidas por autarquias locais em zonas conservadoras como Viseu mas isso é outra conversa.
Este post é essencialmente para dizer que acho que não podemos continuar a desresponsabilizar estes jovens nem a criá-los sem noção de direitos e deveres – ou melhor de responsabilidade e deveres porque os direitos esses são bem conhecidos – num individualismo feroz (bem espelhado na questão do balde, fruto de uma educação sem nexo de causalidade, alheada das consequências dos seus actos, consequências que são sempre imputadas a factores exteriores.
Exemplo impressionante é aquele em que se pedem contas ao Governo, à polícia, à escola à sociedade quando se fala das crianças de rua mas não se pedem responsabilidades àqueles que são directamente responsáveis por essas crianças: os pais.
Não há liberdade sem responsabilidade. É um chavão que me parece totalmente desconhecido para os nossos jovens (e não só). Julgo que temos de cobrar responsabilidade nas atitudes: sexo sem protecção quando não se quer (ou não se tem condições para ter) um filho é imaturidade, é falta de responsabilidade… é estupidez. E isso tem de ser dito aos jovens e aos menos jovens.

2 comments:

http://lenarte.wordpress.com/2007/01/29/paula-rego-2/

impressionante....

Carla

Impressionante mesmo. A Paula Rego tem sempre imagens muito fortes.
Não sou contra o aborto, mas custa-me aceitar que possa ser encarado com tamanha leveza. Custa-me mais ainda a facilidade em desresponsabilizar da nossa sociedade. A facilidade em deitar fora o arbítrio e tudo aquilo que deveria fazer de nós pessoas.