Uma volta pela blogolândia e a dengue é o tema. Posts informativos e úteis, apelos válidos ao trabalho de todos a par de desinformação e pânico pouco justificado para quem tem as ferramentas da informação nas mãos ou já apanhou dengue mais do que uma vez no Rio de Janeiro – a cidade dos Jogos e o maior foco de dengue do mundo…
Começar dentro de casa e sair à rua e limpar é a palavra de ordem. A resolução do problema está nas nossas mãos. Começar por casa: verificar os depósitos, os bidons que temos no quintal, os lindos vasos, as goteiras do ar condicionado… começar pela nossa rua: tapar valas com areia, deitar óleo queimado ou gasóleo nas poças de água, recolher as garrafas e latas que andam por aí (aproveitar e retirar os sacos de plástico), os pneus e tantas outras coisas que sabemos que facilitam a propagação do mosquito e como tal da dengue e de outras doenças que estão e sempre estiveram à espreita além de necessário, e óbvio é fácil. Somos senhores do nosso destino. Cabe-nos a nós a nossa salvação. Cabe-nos a nós aceitar o tratamento paliativo porque ele existe e está ao nosso dispor.
Faltasse soro ou capacidade de tratamento e seria pior…
Vejo a Praia mobilizar-se e fico contente.
Chateia-me a sistemática desinformação. As tentativas de culpabilização e desresponsabilização.
A situação é preocupante, estamos em crescendo - e ainda não atingimos o pico - e os factores que favorecem a propagação estão aí à solta; e não são só os de saneamento, são também os outros: gente que não se cuida, não se protege, não aceita tratamento e que mesmo após semanas de formação (estou a falar da formação que teve lugar na delegacia da Praia com o objectivo de preparar agentes para sensibilização no terreno) recusam pôr repelente porque cheira mal e vestir calças e pôr meias porque está calor!! Caramba.
O vector existe em Cabo Verde e duvido que seja desde o ano passado – não tínhamos capacidade para detectá-lo mas já temos – aliás existe em toda esta zona, caso da Madeira (desde 2005 pelo menos) e mesmo na Europa, na Catalunha por exemplo. A diferença: a Câmara do Funchal não dorme e faz fumigações anuais mesmo tendo um saneamento básico muitoooooo superior ao nosso. Limito-me a constactar factos: o saneamento básico é da responsabilidade do poder local e é notoriamente deficitário e não me venham com meios porque tapar valas, recolher pneus não carece assim de tantos meios. OK é estranha a ausência, a demissão mas agora é tempo de trabalhar.
Mas atenção. Já se afirmou neste blog: o lixo não cai do céu, logo somos todos responsáveis.
Fico estupefacta quando se tenta problematizar e politizar uma afirmação do Delegado de Saúde da Praia, em 2008, quando se detectou mosquitos contaminados no Sal de que que era remota a possibilidade de epidemia e há quem de imediato tente retirar a ilação de que houve falha do Governo! As condições são dinâmicas e não são iguais a 2008. Há mais lixo, mais água… Espantosa a política da dengue.
Facto é que em 2009 o mosquito finalmente encontrou as condições propícias, começou pela Praia (e não pelo Sal) e a mobilidade fez o resto.
Curiosamente reclamam-se medidas que já estão tomadas. O exército e a protecção civil estão nas ruas há vários dias, médicos e enfermeiros não regateiam esforços, as farmácias estão abertas até mais tarde, o ministro da saúde que em Junho ou Julho alertou para a necessidade de combater o mosquito dá a cara todos os dias, os hospitais bem ou mal vão dando resposta, os hospitais de campanha já estão montados, os equipamentos laboratoriais já estão aí. A informação flui as estatísticas mostram-nos a evolução e o que podemos esperar mas reclama-se que está escondida porque há quem não vá ao hospital!
Reclama-se números de informação como se não fosse necessário treinar pessoas para dar informação (os médicos e enfermeiros estão no terreno não podem estar ao telefone)
Reclama-se declaração de calamidade pública como se não existissem regras para tal declaração! Reclama-se ajuda da comunidade internacional quando a primeira reunião com a ela sobre a dengue teve lugar há duas semanas – o nosso caso se calhar não é dos mais alarmantes para a OMS e a ajuda pode ser programada nas melhores condições. Reclama-se porque o MS diz que tem a situação sob controlo (ou seja tem medicamentos e dinheiro para os comprar) pois não é função do MS andar a limpar mas sim ter condições para tratar as pessoas infectadas. Reclama-se protecção para limpar os vasos que estão à nossa porta… A par disso o negócio dos açambarcadores de cravinho e cânfora floresce… e os que não fazem negócio açambarcam à mesma – desde que usem pois quando se protegem, retirando ao mosquito o seu alimento favorito, também me protegem pois menos se propaga…
Mas são pormenores porque a Praia reagiu.
Tal como eu muitos não esperaram por hoje para deitar as mãos ao trabalho.
Tal como eu vão recolhendo garrafas pelos caminhos onde andam, chamam a atenção para vasos, irritam-se por causa de um bidon destapado e chateiam-se a sério por causa dum depósito também destapado ou da água do ar condicionado a escorrer para a rua.
A Praia mobiliza-se e gosto de ver esta mobilização. Hoje (amanhã e depois) estarei na rua e sei que a meu lado estarão muitos outros. Juntos, unidos. Esta é a nossa cidade, se calhar estávamos esquecidos mas raios me partam se a porra do mosquito nos leva a melhor!