Dum
site de autores africanos onde podemos encontrar textos de Mia Couto, poesia de Tolentino, de Cachamba, de Jorge Barbosa, de Lara Alda e de tantos outros deste mundo imenso que fala português trago António Gedeão com o poema "A Pedra Filosofal"
"Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida
tão concreta e definida como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo num perpetuo movimento.
Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral, contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia, que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim, florete de espadachim,
bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim,
passarola voadora, pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva, alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão,
desembarque em foguetãona superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança como bola colorida
entre as mãos duma criança."